Sobre como amar uma mulher

Amar uma bela mulher com o sentimento de amar as flores aumenta a agudeza da admiração; amar as flores com o sentimento de amar as mulheres aumenta a ternura em protegê-las.

As mulheres são flores que sabem falar e as flores são mulheres que exalam perfume. Aprecia antes o falar que o perfume.

As moças de qualquer localidade, entre os catorze e os vinte e cinco anos, têm um sotaque encantador, mas, quando lhes vemos os rostos, há grande diferença entre as feias e as belas.

Para uma mulher, ter a expressão de uma flor, a voz de um pássaro, a alma da lua, a postura do salgueiro, ossos de jade e pele de neve, o encanto de um lago outonal e o coração de poesia - seria realmente a perfeição.

Evita ver o murchar das flores, o declínio da lua e a morte de mulheres jovens. Deve-se esperar ver as flores em pleno viço após plantá-las, a lua cheia após dias a aguar­dá-la, e acabar de escrever um livro após começa-a; deve-se cuidar de que uma bela mulher seja feliz e alegre. Do contrário, todos os trabalhos são em vão.

O tinteiro de um intelectual deve ser primoroso, mas também o deve ser o de um comerciante. Uma concubina para o prazer deve ser bela, mas também o deve ser uma concubina para continuar a linhagem familiar.

É bom olhar uma senhora toucar-se pela manhã, depois que empoou o rosto. Segundo um velho dito, as mulheres que sabem ler e escrever são inclinadas a ter moral frouxa. Minha opinião é a de que isso não é por culpa da educação, mas porque, quando uma mulher educada tem moralidade frouxa, o público fica sabendo disso mais depressa.

Quando um intelectual encontra outro, há normalmente um sentimento de simpatia mútua, mas, quando uma beldade encontra outra, falta sempre o sentimento de ternura para com a beleza. Pudesse eu nascer uma bela mulher na vida vindoura, para mudar tudo isso! Proponho que se realize grande reunião num templo para fazer sacrifícios a todas as beldades famosas e a todos os grandes poetas do passado, mesclando-se com absoluta liberdade homens e mulheres. Quando encontrar um monge de primeira classe, de real cultura, irei fazê-lo.

[Yumeng ying, de Zhang Zhao (1693)]