Shijing

Escrito em 718 aec. É a versão chinesa do "mundo bem perdido". Possivelmente, como um certo Yen Zan do décimo terceiro século insiste, "feita com a intenção de mostrar o erro de ligações licenciosas":

 

A abóbora ainda está com as folhas amargas,

É profundo o vau no cruzamento.

Espero meu senhor.

O vau está cheio até às bordas;

O faisão grita pela companheira.

Meu senhor demora.

O barqueiro ainda chama com acenos,

E outros chegam ao fim da jornada.

Espero meu amigo.

 

 

Escrito em 826 aec. É incoerente com o mais belo ideal de castidade - que a mulher chinesa quebre a viuvez perpétua.

 

Oh, deixá-lo vogar, aquele barco de madeira de cipreste,

Lá no meio do Ho.

Ele era meu companheiro,

E até a morte continuarei desolada.

Ó Mãe! Ó Deus!

Por que é que não quereis compreender?

Oh, deixá-lo vogar, aquele barco de madeira de cipreste,

Lá no meio do Ho.

Ele era meu rei.

Juro que não farei essa maldade. Ó Mãe! Ó Deus!

Por que é que não quereis compreender?

 

 

Escrito no décimo segundo século antes de Cristo. Provavelmente de 1121aec.

 

A luz gloriosa da manhã cai sobre minha cabeça,

Pálidas flores brancas e púrpuras, azuis e vermelhas.

Estou inquieta.

No meio da relva seca algo se agita,

Pensei ouvir seus passos.

Depois um grilo cantou.

Subi a colina até que a nova lua surgiu,

Vi-o chegando pela estrada do sul.

Meu coração abandonou toda preocupação.

 

 

Escrito em 690 aec. O "Pequeno Prefácio": "O elogio que um homem faz à sua Pobre Esposa".

 

Saí pelo Portão Oriental,

Vi as jovens nas flores,

Eram bem como nuvens, radiantes e delicadas,

Mas ao olhá-las

Pensava na jovem que é a minha luz,

Reclinada e lânguida, suave como o crepúsculo cinza;

Ela é minha companheira.

Saí pela Torre que fica nas Muralhas,

Vi as jovens nas flores,

Como os juncos em flores curvavam-se e ondulavam,

Mas naquela hora

Pensei na donzela que é meu amor,

Em seus vestidos brancos tão leves e em suas cores desmaiadas;

Ela é tudo para mim

 

 

Escrito em 718 aec no harém do Palácio de Wei.

 

O vento sopra do norte.

Ele olha e os olhos são frios.

Ele olha e sorri e depois passa adiante,

Meu coração sofre.

O vento sopra sobre a poeira.

Ele jurou que amanhã virá.

As palavras foram doces, mas ele não as cumpriu,

Meu coração está entorpecido.

O dia inteiro o vento soprou forte,

Há muito o sol mergulhou no horizonte.

Pensei nele tanto tempo e tanto

Que não posso dormir.

As nuvens estão negras como a noite;

O trovão não trouxe a chuva.

Levanto-me e não tenho esperança

Sofro sozinha a minha dor.

 

 

Escrito em 769 aec por uma mulher divorciada.

 

O vestido amarelo é sinal de distinção,

O verde, da desgraça.

Uso o verde e não o dourado,

E escondo o meu rosto.

Uso o verde do desprezo

Depois de tanto tempo usar o amarelo.

Medito nos ensinamentos dos Sábios,

Com medo de julgá-los errados.

Foi por ela que ele me cobriu de vergonha.

Sento-me e penso solitária.

Fico pensando se os Sábios conhecem

O coração de uma mulher.

 

 

Escrito em 826 aec. Queixas de um ajuste não cumprido.

 

Os salgueiros que crescem ao lado do Portão Oriental

Tem folhagens bem densas que abrigam.

Você disse - Antes que anoiteça -

E já se ouve chilreio nas beiras dos telhados.

Os salgueiros ao lado do Portão Oriental

A noite inteira banharam-se nas sombras.

Você disse - Antes que anoiteça –

E eis que brilha a estrela da manhã.

 

 

Escrito em 718 aec.

 

Não posso ir a teu encontro. Tenho medo.

Não irei a teu encontro. Eis tudo, já disse.

Embora a noite inteira eu fique desperta e saiba

Que tu também estás deitado e desperto.

Embora, dia a dia, tu sigas a estrada, solitário,

E voltes, ao cair a noite, para um lar sombrio.

Contudo mesmo assim és meu amigo, na verdade,

Depois, no fim,

Há uma estrada, uma estrada que eu nunca percorri.

E por essa estrada não passarás sozinho.

E lá, certa noite, encontrar-me-ás a teu lado.

A noite em que me disserem que morreste.

 

 

Escrito c. 605 aec

 

Os juncos dos pântanos estão verdes

E curvam-se ao vento.

Vi uma mulher andando por ali

Já quase ao anoitecer.

Sobre as águas escuras do pântano,

Os botões do lótus bóiam muito brancos.

Vi-a de pé sobre a margem,

Ao cair da noite.

A noite inteira fiquei acordado

E não pude encontrar descanso.

Via-a delgada como os juncos

Curvando-se ao vento.

Fechei os olhos e vi novamente

A brancura de seu colo

Sobressaindo nas águas escuras da noite

Tal como o lótus ao flutuar.

 

 

Escrito em 718 aec

 

O Ke ainda se lança com ímpeto contra as margens

A galinhola grita.

Meu cabelo estava preso num nó,

E você apareceu.

Você vendia sedas a um rapaz

Que não era de nossa classe;

Você passou ao pôr do sol na estrada

Vindo lá da distante Qin.

As rãs estavam coaxando ao lusco-fusco

A relva estava úmida.

Conversamos e eu ri;

Ouço ainda o que você disse.

Pensei que seria sua esposa;

Você me prometeu.

Assim segui a estrada com você

E atravessamos o vau.

Não sei bem quando pela primeira vez

Seus olhos ficaram indiferentes.

Mas tudo o que se passou foi apenas há três anos

E já me sinto velha.

 

 

Escrito em 769 aec.

 

O meu senhor partiu para servir ao rei.

As pombas voltam ao pôr do sol

Estão ao lado uma das outras sobre o muro do pátio,

E de lá bem distante ouço o pastor chamar

As cabras que estão pela colina, quando o dia termina.

Mas eu, não sei quando ele voltará para casa.

Passo os dias sozinha.

O meu senhor partiu para ir servir ao rei.

Ouço uma das pombas que se ajeita no ninho.

E no campo um faisão grita ainda.

- Daqui a pouco estará perto da companheira.

Há uma saudade que não me deixa descansar.

Os dias formaram meses e os meses formaram anos,

E não tenho mais lágrimas.

 

 

Escrito em 675 aec. "Há alguma coisa sobre a qual se possa dizer - "Olhe, isso é novo?", pois já existia em tempos passados, em tempos que nos precederam."

 

Eu devia ter ido ao encontro de meu senhor quando ele precisasse

Devia galopar até lá o dia inteiro,

Mas isso é assunto que diz respeito ao Estado,

E eu, sendo mulher, devo ficar.

Vi-os abandonando o pátio do palácio,

De carruagem e com as vestes oficiais.

Devia ter ido por colinas e vaus

Pois sei que chegarão tarde demais.

Posso andar pelo jardim e colher

Lírios de madrepérola.

Tinha um plano que teria salvo o Estado.

- Mas minhas idéias são as de uma mulher.

Os Estadistas Mais Velhos sentam-se em coxins,

E disputam metade do dia:

Mais de cem planos fizeram e abandonaram.

E o meu era o único certo.

 

 

Dedicada a um jovem cavalheiro.

 

Não entre, senhor, por favor!

Não quebre os ramos de meu salgueiro!

Não que isso me entristeça muito;

Mas, pobre de mim! O que dirão meus pais?

E embora eu o ame como posso amar,

Não posso suportar o que seria tal coisa.

Não passe para o lado de cá do meu muro, senhor, por favor!

Não estrague minhas amoreiras!

Não que isso me entristeça muito;

Mas, ai de mim! O que dirão meus irmãos?

E embora eu o ame como posso amar,

Nem quero pensar em tal coisa.

Fique do lado de fora, senhor, por favor!

Não quebre os ramos do Sândalo!

Não que isso me entristeça muito;

Mas, ai de mim! O que dirá o mundo?

E embora eu o ame como posso amar,

Nem quero pensar em tal coisa.

 

 

Para um Homem.

 

Você me parece um jovem bem ingênuo,

Oferecendo em troca de seda seus tecidos;

Mas não é a seda o que você deseja:

Eu sou a seda que você tem em mente.

Com você atravessei o vau e enquanto

Caminhamos por mais de uma milha

Eu disse - Não quero delongas

Mas, é preciso que os amigos fixem a data de nosso casamento...

Oh, não se aflija com minhas palavras,

Mas volte com o outono.

E então passei a esperar e a ficar olhando

Para ver você passar pelo portão;

E algumas vezes quando observava em vão.

Minhas lágrimas corriam como grossas gotas de chuva;

Mas quando vi meu querido,

Ri e chorei alto de alegria.

Os videntes, disse você,

Todos declararam que éramos feitos um para o outro;

- "Tragam então uma carruagem," repliquei,

"E serei sua esposa para sempre."

As folhas da amoreira, ainda não arrebatadas

Pelo vento frio do outono, brilham ao sol.

Ó doce pomba, eu devia aconselhar,

Acautela-te contra o fruto que tenta teus olhos!

Ó linda donzela, ainda não esposada,

Não ouça, alegremente, as promessas do amado!

Um homem pode fazê-las de má fé e o tempo

Se encarregará de obscurecer seu crime;

Uma mulher que perdeu o nome

Está condenada a uma vergonha eterna.

A amoreira sobre o solo que a cerca

Agora espalha as folhas amarelas.

Três anos já se passaram,

Desde que eu partilhei sua pobreza;

E agora novamente, dia amargo!

Atravessei o vau de volta.

Meu coração ainda não mudou, mas você

Pronunciou palavras que agora provaram ter sido falsas;

E abandonou-me para lamentar

Um amor que não mais pode ser meu.

Durante três longos anos fui sua esposa,

E levei, na verdade, uma vida de tristeza;

Cedo me erguia da cama e ia tarde descansar,

Todos os dias se passaram assim para mim.

Honestamente cumpri a minha parte.

E você...você despedaçou meu coração.

A verdade meus irmãos não a saberão,

Do contrário me crivariam de sarcasmos.

Sofro em silencio e só lamento

Ter sido meu um tal destino infeliz.

Ah, quem dera que de mãos dadas enfrentássemos a velhice!

Em vez disso volto uma página amarga.

Oh, pelas margens do rio, há muito tempo;

Oh, pelas muito queridas praias pantanosas;

As horas da meninice, com meus cabelos

Soltos, como eu as esperava!

As Juras que trocamos pareciam tão sinceras,

Nunca pensei que teria que arrepender-me delas;

Nunca pensei que as promessas que trocamos

Por que falar mais sobre isso*

[* Há uma outra tradução que coloca esta última frase como: “Algum dia não mais nos uniriam”. Não parece ser, porém, original].

 

 

O Marido está fora.

 

Meu marido está fora, pois foi para o estrangeiro,

E quando voltará, oh! Meu coração não pode dizer.

As galinhas vão para os poleiros e os animais para as manjedouras

Quando se dirigem para casa após pastarem nas montanhas.

Mas, como posso eu, abandonada,

Deixar de pensar em meu homem que partiu?

Meu marido está fora, foi para o estrangeiro,

E passar-se-á muito tempo antes que reveja nossa lareira.

As galinhas vão para os poleiros e os animais para as manjedouras

Assim que os últimos raios de sal atravessam as folhagens da floresta.

Só os Céus sabem as coisas que penso assim solitária

Os Céus alimentam e acalmam a sede de meu coração!

 

 

O Galo está cantando

 

Disse a mulher - O galo está cantando.

Falou o marido - O dia está começando.

- Levante-se, marido, e vá ficar à espreita

Veja como a estrela da manhã está alta no céu,

O sol daqui a pouco estará brilhando sobre todas as coisas

E há uma porção de patos e de gansos para caçar.

Atire quando estiverem voando e traga-os para casa, para mim,

E farei um prato como você gosta.

No futuro, quando

Você cabecear com sono,

Sem cuidados, sem receios,

Nós teremos envelhecido dignamente com os anos.

E quando estivermos com os amigos que apreciamos,

A cada um darei um pouco de peixe por você pescado,

Deixá-los-ei apreciarem as contas de aldeã, presas às correntes,

E outras antiguidades encantadoras.

Algumas mãos fúteis, mas adoráveis, hão de descobrir

O amor que elas representam.

Ó querido! Aquele rapaz astucioso

Não quer dar-me uma palavra!

Mas, senhor, apreciarei

Minha refeição, embora você se mostre absurdo!

Ó querido! Aquele rapaz astucioso

Não se sentará em minha mesa!

Mas, senhor, apreciarei

Meu descanso, embora você aqui não esteja!

 

 

No Portão Oriental.

 

No portão oriental, o solo é fértil

E a garança cresce nos declives.

No entanto, o terreno que cerca a casa de minha amada é áspero;

Ele me conserva à distância e zomba de minha esperança.

Onde crescem as castanheiras, perto do portão oriental,

Elas erguem-se em filas, é lá que fica tua casa.

Meu coração procura o teu, como o seu companheiro,

Mas, ah! tu nunca vens a meu encontro!

 

 

O Estudante de Colarinho Azul.

 

Você, estudante, de colarinho azul,

Há muito dilacera meu coração com uma ansiedade dolorosa.

Embora eu não corra para você,

Por que você foge de todo o mundo?

Ó você, com roupas debruadas de azul,

Os meus pensamentos para sempre correram para você!

Embora eu não o persiga,

Por que você não vem a meu encontro?

Como você é despreocupado, como se mostra alegre e volúvel

Lá perto da torre que encima a muralha!

Um dia, longe de sua presença

Durante três meses, considerei-file exilada.

 

 

No Pântano.

 

No pântano onde mais exuberante cresce

A relva rasteira, curvada com o peso do orvalho,

Ali um belo rapaz aproximou-se,

Sob cuja testa, alta e larga,

Brilhavam os olhos límpidos e vivos.

Foi por acaso que nos encontramos;

Fiquei satisfeita por alcançar o que desejara.

Onde a relva cresce rastejante no pântano, Toda coberta pelo orvalho,

Ali encontrei o mais belo rapaz,

Sobre cujos olhos límpidos e vivos,

Erguia-se a testa, larga e alta.

O acaso fez-nos que nos encontrássemos, coisa rara,

E ambos nos sentimos felizes.