Carta sobre uma jovem esposa

Quando a noiva (nora) entra em nossa família, deve ser ensinada a ir à cozinha e aprender a costurar, e também a manejar a roda de tecer. Não se deve permitir que ela fique ociosa, pelo fato de vir de um lar rico.

Já sabem a filha mais velha, a segunda e a terceira fazer seus próprios sapatos? Eu gostaria de que as três filhas e a nora me fizessem, cada uma, um par de sapatos por ano (Os sapatos chineses eram feitos, costumeiramente, com solas de pano, reforçadas com papelão ou feltro, e muitas vezes se fabricavam em casa. A ponta dos sapatos das mulheres costumava levar um bordado. A parte de cima, bordada, era a coisa importante em que uma dama podia exercitar sua capacidade quanto ao desenho e ao colorido. Se se desejasse uma sola de couro, os sapatos podiam ser completados por um sapateiro), como forma de respeito, mas também de modo que eu pudesse ver seus trabalhos de agulha. Também devem fazer roupas e meias com pano de fabricação doméstica. Desse modo, poderei vigiar a diligência ou a ociosidade das mulheres de nossa casa.

As famílias dos dignitários, hoje em dia, tendem a tornar-se ociosamente ricas, vivendo em fausto. Dão maus exemplos. Quando minhas três filhas estiverem crescidas, quero que se casem em famílias cultas e simples da classe média, que não precisam ser ricas.

Nunca se deve esquecer o plantio de verduras no quintal da casa. A criação de peixes no lago do lado de fora de nossa porta da frente dá a todo o ambiente uma sensação de desenvolvimento e de vida. Criar porcos é também parte importante da economia doméstica. Secam-se, após o outono, alguns dos bambus do terraço traseiro? Por estas quatro coisas, podemos ver se uma família é ativa e operosa, ou se está consumindo sua fortuna. Nenhuma dessas quatro coisas - criação de peixes, de porcos, os bambus e as verduras pode ser negligenciada. Em primeiro lugar, queremos manter a tradição de parcimônia e industriosidade de nossos ancestrais e, em segundo lugar, essas quatro coisas dão sensação de vida e desenvolvimento. No momento em que se entra por uma porta, pode-se sentir um frêmito de atarefada prosperidade. Gastar mesmo, com essas coisas algum dinheiro e trabalho, valeria inteiramente a pena.

[De “Cartas familiares de Zeng”, de Zeng Guofan, 1811-1872]