Corpo de Mulher

No Primeiro Ano de Xiehe (A.D. 147), na quarta lua, dia de Dinghai, a Dama Wu, da Corte das Servidoras, dirigiu-se com a ordem real do dia de Bingshu (o dia anterior) à casa do Camarista Chao. Diz a ordem: "Ouvimos que o primeiro poema do Livro das Canções celebrava um casamento real e que a escolha de uma boa esposa real sempre foi a preocupação dos soberanos do passado. A casta fama da desolada e jovem filha do falecido General Cheng Shang chegou a nossos ouvidos. Vá o Camarista com a Dama (Wu) à casa do falecido general, para examinar a conduta da jovem e todos os seus detalhes íntimos e fazer um relato fiel. Pretendemos escolhe-la para o palácio."

Levando a carta de autorização, eu (Dama Wu) e Chao fomos à casa do falecido General Shang e encontramos a família a jantar. Nossa chegada produziu grande sensação na casa. A moça, chamada Nuying, saiu da sala e recolheu-se a seus aposentos. Chao e eu seguimos as instruções da ordem e estudamos com cuidado seu comportamento, ficando satisfeitos. Chao então saiu e eu fui com Ying (a jovem) a seu quarto particular, onde, depois de haver mandado sair todas as servas, fechei a porta. Nessa ocasião, a luz do sol atravessou as folhas da janela e brilhou sobre o rosto de Ying, que irradiou uma cintilação semelhante à da nuvem matinal, ou da neve, fazendo com que eu instintivamente evitasse olhar para ela de modo direto. Ondas de luz vinham de seus olhos e suas sobrancelhas eram arqueadas. Tinha lábios vermelhos e dentes brancos, orelhas compridas e nariz pontudo. As bochechas eram cheias e o queixo bem conformado, tudo na devida proporção. Tirei-lhe então da cabeça o longo e curvo ornamento, e deixei caírem seus cabelos, negros como azeviche. Segurei-os na palma da mão e eles alcançaram o chão, ainda com sobra.

Feito isto, pedi-lhe que afrouxasse as roupas de baixo. Ying enrubesceu totalmente e recusou. Então, eu lhe disse: "É uma norma do palácio, que tem de ser executada. Deixe, por favor, que uma pobre velha faça o exame. Solte o nó do cinto e eu terei muito cuidado." Lágrimas vieram aos olhos de Ying, que os fechou, desviando o rosto. Desatei-lhe, então, o nó do cinto e virei-a para a luz. Senti um cheiro delicado. Sua pele era branca e fina, tão macia que minha mão escorregava ao tocá-la. A barriga era arredondada e os quadris quadrados. Era como queijo compacto e jade burilado. Seus seios se empinavam e o umbigo tinha profundidade bastante para que nele coubesse uma pérola de meia polegada. O monte do abdômen subia suavemente. Abri-lhe as coxas e vi que a vulva era de um vermelho brilhante, enquanto os lábios menores se salientavam de leve. Certifiquei-me de que era casta virgem. Resumindo, em relação ao corpo de Ying: seu sangue nutria bem a pele, sua peje cobria bem os músculos, e seus músculos ocultavam bem os ossos. Suas dimensões eram perfeitas. De pé, media sete pés e uma polegada; a largura dos ombros era de um pé e seis polegadas e os quadris tinham três polegadas menos do que os ombros. Media dois pés e sete polegadas dos ombros à ponta dos dedos das mãos, e os dedos tinham quatro polegadas, das pontas à palma, parecendo dez varetas pontudas de bambu. O comprimento de suas pernas, das coxas aos pés, era de três pés e duas polegadas, e seus pés mediam oito polegadas. Os tornozelos e arcos dos pés eram redondos e cheios e as solas macias, com os dedos pequeninos. As meias justas e apertadas de seda se prendiam como as das damas do palácio. Durante longo tempo ela permaneceu sem falar. Insisti para que agradecesse a Sua Majestade Imperial e ela, curvando-se, disse: "Vida longa ao Imperador!" Sua voz era como uma brisa a mover-se num bambuzal, muito agradável de ouvir. Não tinha hemorróidas, nem sinais ruins, nem manchas ou feridas, nem defeitos na boca, no nariz, nos sovacos, nas partes privadas ou nos pés.

Sou uma mulher estúpida e humilde e não sei exprimir com propriedade o que vi ou senti. Faço este relatório secreto, devidamente selado, sabendo que minha vida depende do que aprouver a Vossa Imperial Majestade.

["Miscelâneas" ("Tsa Shih Mi Shin"), Fragmento do Séc. II d.C.]